Porquê a chanfana em destaque e para começar esta aventura?
Porque faz parte da minha família, da minha cidade e da minha aldeia desde que me lembro de ser gente.
Também é um dos pratos que se cozinham em casa e que raramente comemos em restaurantes, salvo raras excepções de que lhes irei falando mais para a frente.
Quando era miúda, em Setembro ia para a aldeia do meu avô Paz, os Moinhos, onde terminava as férias entre as vindimas, as desfolhadas e as debulhadas.
Pelo quintal da casa passeavam-se as cabras, as ovelhas, as galinhas e os coelhos e toda a criação que por lá habitava e que, a minha Tia Júlia e o Tio Diniz alimentavam, e cuidavam ao longo de todo o ano.
Naquela época, ir para a aldeia era uma aventura que durava horas. Levávamos o farnel para comer a meio do caminho, mas sempre a pensar no queijinho fresco e na broa que certamente a Tia Júlia tinha acabado de fazer para nós.
Hoje em duas horas e meia estamos lá, mas já não temos a Tia Júlia para cuidar de nós nem os animais a passear no quintal nem a broa e o queijinho fresco á nossa espera.
Agora somos só nós. Quando chegamos a casa está fria e vazia e se quisermos queijinho fresco vamos comprar ao supermercado e se queremos broa temos que a amassar ou esperar que o padeiro chegue.
Os sabores já não são os mesmos…
Mas… continuemos na chanfana ou, se quiserem, também podem chamar de carne dos casamentos.
Em tempo de casamento ou festa matava-se a cabra para dar de comer aos convidados e a chanfana que sobrava guardava-se na loja.
Se não sobrava grande coisa faziam-se as sopas de casamento para aproveitar o que ficava.
E ali ficava a chanfana guardada, ás vezes durante meses, dentro de umas quantas caçoilas negras com a carne cozinhada e coberta de gordura.
A loja, na parte de baixo da casa junto á adega, funcionava como o frigorífico lá de casa.
Aprendi a fazer chanfana com a minha Avó Carolina e com a minha Mãe e hoje é dos muito poucos pratos que cozinho e que toda a gente gosta mesmo os que normalmente dizem que não gostam de chanfana.
A receita?
Não há receita. Este blog não é de receitas porque se eu vos enchesse de receitas… deixavam de comer.
Mas… o segredo está na carne…
A carne continua a ser de cabra, de preferência velha, que eu trago sempre de Miranda do Corvo do Talhos Bento já há… Não sei! Perdi a conta aos anos que os conheço.
Uma coisa vos digo, a chanfana, feita por mim é muito boa e se estou nos Moinhos e tenho paciência para amassar a broa, é sem dúvida o melhor acompanhamento para a dita cuja.
Pomos a lenha a arder bem no fundo do forno para que fique bem quente e depois afastam-se as brasas para preparar a “cama” da broa.
Umas folhinhas de couve portuguesa acabadas de apanhar para que a broa não pegue ao fundo do forno e aí fica ela descansada até estar bem cozida.
Depois tiramos de tirar a broa do forno, é a vez de entrarem as caçoilas da chanfana e aí ficam, com a porta do forno bem fechadinha, até ao dia seguinte.
Depois é desfarelar a broa no prato e servir a chanfana por cima com muito molho.
Também fica muito bem acompanhada com umas batatinhas lá da terra cozidas ou batatinha nova assada a murro. Se conseguirmos arranjar uns grelitos também acompanham muito bem.
Enfim! Apresento-vos a CHANFANA
Convido-vos a ler um pouco sobre a história da Chanfana de Miranda do Corvo e já que falamos de tradições podem também visitar a nossa página das Favas Guisadas, uma tradição com história na nossa casa. Saboreiem!