Favas Guisadas

Favas à moda da Casa Paz

Desenganem-se os que pensarem que pelo facto de ser uma Menina de Odivelas seria uma menina prendada e exímia cozinheira.

Pois bem, não consegui aprender a fazer uma “sopa de lêndeas” e muito menos um rolo de carne ou uma simples gelatina.

Afinal, acho que, durante os 8 anos que por lá andei, só tive duas aulas de culinária.

Assim, há uns anos largos atrás, quando casei, os meus amigos descobriram, na pele, isso mesmo: de cozinha não sabia nada…

Um belo fim de semana, presenteei alguns amigos com uma bela beterraba que, por não o ser, não consegui que ficasse roxa!

Roxo ficou quem comeu o meu “manjar”. Foi tão mau que…

Bem, vamos ao que interessa, para me redimir de tamanha inaptidão culinária jurei, mas cruzei os dedos atrás das costas, que fazia umas favas espectaculares e assim, na véspera do evento, dia 24 de Abril de há alguns anos (muitos) atrás, telefonei à minha Mãe para saber como se faziam as ditas favas.

Moral da história:

Correu bem, e, tirando os dois últimos anos, porque o Covid não gosta de favas, há 35 anos que mando à fava muitos amigos.

Das minhas 12 cobaias fizeram parte velhos amigos que ainda estão bem vivos e desde esse dia que há favas lá em casa no dia 25 de Abril.

Começamos 12 e hoje, desde que o Covid deixe, somos cerca de uma centena de amigos que se juntam para se deliciarem com as minhas favas.

Indo um pouco contra a regra de não publicar receitas aqui vai a bela receita das minhas favas.

Ingredientes:

• 50 a 70 Kg de favas acabadas de apanhar;
• 4 a 6 Kg de entrecosto misturado com entremeada cortados aos pedaços, do Talho Bento, em Miranda do Corvo;
• 7 a 10 Kg de enchidos de Norte a Sul do País (entre chouriço de carne com e sem picante, de cebola, de porco preto, mouras, morcelas e cacholeiras);
• 3 Kg de cebolas;
• 4 a 5 cabeças de alho;
• 1l de azeite caseiro das oliveiras da vinha;
• 1l de vinho branco das uvas da vinha;
• Ingrediente secreto – molhinhos de coentros e ervas do meu quintal
• Sal, pimenta q.b.;
• Muito amor e dedicação à causa da fava e sobretudo boa disposição.

Modo de preparação:

De véspera deve-se descascar as favas e tirar os olhinhos negros (dão mau sabor).

Apanhar as ervas do quintal, de preferência de dia, e começar a preparar os molhinhos.

Entretanto, alguém vai cortando os enchidos com cerca de 2 cm e bebendo jeropiga, aguardente ou caipirinha conforme o que há à disposição.

Também podem acompanhar com sangria ou chá de tília.

Como os molhinhos, o dito ingrediente secreto, demoram muito a preparar, alguém descasca e pica as cebolas e os alhos.

Por volta da meia-noite, entre petiscos, bebida, conversa e muito riso, despeja-se o azeite em cima das cebolas e alhos picados e coloca-se o tacho ao lume utilizando todos os bicos do fogão, mesmo o elétrico.

Assim que a cebola está quase transparente, dispomos os molhinhos com arte à volta do tacho, (dentro do tacho, não é fora…) no sentido dos ponteiros do relógio.

Quando começar a cheirar a favas, sem favas, está na hora do vinho e de entalar o entrecosto e a entremeada.

Deixar alourar e em seguida despejar os alguidares dos enchidos, todos previamente cortados com 2 cm.

Quando já não houver jeropiga e aguardente, está na hora de ir para a cama e desligar o lume.

Na manhã do dia 25, voltar a acender todos os bicos do fogão e deixar ferver.

Assim que tudo está a fervilhar é só despejar os alguidares das favas descascadas e sem olhos pretos.

Se forem muitos compinchas está na hora de separar o preparado por dois tachos e dividir as favas entre eles.

Assim que tudo estiver a ferver de novo, está na hora de arranjar quatro braços fortes (ou dois homens com músculo) para levarem os tachos para baixo e para cima do fogão a lenha previamente aquecido com madeira de boa qualidade.

Não abrir os tachos sobre qualquer pretexto e muito menos só para espreitar.

Quando os amigos começam a chegar, está então na hora de provar e mexer o tacho pela primeira vez.

Assim que as favas estiverem macias e toda a broa, queijos e outras coisas que possam existir tiverem, por magia, ou por fome, desaparecido está na hora de abrir as hostilidades e que cada um se desenrasque à vez na bichinha “pirilau” bem ordenada e se sirva as vezes que quiser.

Para acompanhar, uma salada de alface, tomate e coentros bem temperada com azeite caseiro e limões, acabadinhos de apanhar, ou vinagre do vinho que não presta.

Cervejas, vinhos e refrigerantes á descrição.

A sobremesa não é comigo… é com todos.

Bom apetite!

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